Pelo
tema do meu trabalho de conclusão de curso, na universidade (puxa vida, falta
muito pouco para ser uma psicóloga!), venho pesquisando cada vez mais sobre a
Ditadura Militar. No cinema há vários recortes desse período, muitos destes
estão além da história formal, as memórias individuais, aquelas que ainda não
conseguiram o direito de existir, retratando, então, relatos muito particulares
na história da sociedade daquele momento, são roteiros de alguns outros, os que
foram marginalizados por aqueles que detinham o poder e, seus atos
institucionais.
No
filme “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” (empregado, também, como título
desta reflexão), há a apresentação da história do garoto Mauro, que
aparentemente tinha um bom nível de vida, junto de seus pais, em Minas Gerais,
entretanto sua vida se transforma em um verdadeiro dramalhão quando seus pais
saem de férias, esta sendo uma nomeação de camuflagem para sua fuga, pois eram
revolucionários, precisaram manter-se na clandestinidade por um período,
evitando a prisão, tortura e possível morte.
A
intenção era de que Mauro permanecesse com seu avô protegido da instabilidade que
a situação dos pais possuía. Principalmente, por estes serem procurados da
polícia, mas com a morte do avó, vê-se sozinho numa cidade completamente
diferente da sua, afinal saí de Belo Horizonte e vai para São Paulo, no Bom
Retiro, bairro judeu. Choque de cultura, geração embalados por um luto.

A
morte do avô é uma surpresa, seus pais não tiveram a oportunidade de sabê-lo,
pois não chegaram a entrar no apartamento para se despedirem, que aconteceu,
então, na calçada do prédio. Percebemos o acolhimento ocorrido, mesmo que,
inicialmente, resistente. Afinal, a desconfiança era geral, em plenos 1970,
AI-5 a polícia ali, nos portões a postos e atentos para qualquer comportamento
julgado inoportuno, que não estivesse dentro do que era esperado dos cidadãos.
O
filme, a meu ver, tem a leveza de ser trabalhado pelos olhos de uma criança um
tema tão denso. Lembro-me que quando foi lançado (um filme comercial, bastante
divulgado e mencionado pela mídia) fiquei muito interessada no mesmo. Ele é
bastante acessível, muito gostoso, com toques de humor (dei várias gargalhadas),
emocionante e, principalmente emblemático em alguns pontos que, se olhados bem
de perto podem ser interpretados como crítica à sociedade.
Um
ponto da história me chama atenção. Mais do que outros, como todas as camadas
da sociedade ficaram rendidas a participação do Brasil na Copa de 1970. O país
parou para ver os jogos, para acompanhar cada passo, cada vitória e mais, como
a população ficou obtusa aos absurdos que estavam acontecendo dentro da nação,
onde seus filhos eram aprisionados, torturados e mortos. Ficou claro que, até
mesmo os revolucionários se sentiam motivados a torcer, paralisando suas
atividades para acompanhar aos jogos.
Os
militantes misturados aos civis, a moça bonita que atrai o olhar de todos os
garotos, a amizade e o carinho, duas comunidades completamente diferentes
convivendo de maneira amigável e respeitosa, a religião sendo seguida como
filosofia de vida, os amores da juventude. A Ditadura Militar. Os
Revolucionários. Tudo em ritmo de futebol, paixão e marcha
dos soldados.
Comentários
Postar um comentário